A Medicina Veterinária e Zootecnia são cursos semelhantes diante das atuações profissionais, o que causa um certo dilema em quem está decidindo o que cursar e cria um certo ar de rivalidade entre os profissionais. Na noite de 6 de outubro de 2022 recebemos no Diálogos a Professora e Zootecnista Camila Raineri e o Professor e Médico Veterinário Thiago Vendramini para uma conversa dinâmica sobre essas diferenças. Eles mostraram que não existe um curso melhor que o outro, cada um tem suas características, diferenças básicas e importância no mundo do trabalho, além de evidenciarmos resultados de sucesso no trabalho conjunto desses profissionais.
A Medicina Veterinária surgiu há 262 anos, em Lyon, França, devido à necessidade de cuidados com os cavalos utilizados em guerras, enquanto a Zootecnia, apesar da ciência animal existir há muito mais tempo, surgiu há 181 anos, a partir de uma disciplina que existia dentro do curso de Veterinária. Nessa separação, algumas áreas ficaram de exclusividade da Veterinária, como parte clínica e cirúrgica, enquanto a Zootecnia focou em gestão, sistemas de produção e nutrição animal. É importante que o pré-vestibulando tenha em mente que, embora haja semelhanças entre os cursos e áreas em que ambos os profissionais podem atuar, são cursos distintos, com grades curriculares e especificidades diferentes. Ainda é importante ressaltar outro curso de agrárias, a Agronomia, que também tem semelhanças e diferenças com a Zootecnia.
Um questionamento comum é em relação ao trabalho com pequenos animais. Zootecnistas podem sim atuar com cães e gatos, pois a saúde e bem-estar dos animais não se restringe à saúde física e clínica, dependendo de uma dieta equilibrada, cruzamentos reprodutivos responsáveis, entre outras áreas de atuação. Ou seja, caso queira trabalhar com pequenos animais, a Veterinária está longe de ser a única opção (além da Zootecnia, têm-se a Agronomia e Biologia, por exemplo). “Um paciente de nutrição clínica precisa ser acompanhado por um veterinário, mas se juntarmos o conhecimento técnico de formulação de um zootecnista com o conhecimento clínico de um veterinário, talvez o tratamento desse paciente seja muito mais rápido e efetivo”, afirmou Thiago.
O professor Augusto Gameiro comenta que “caso você esteja em dúvida do que fazer na vida, Agronomia e Zootecnia são os cursos com áreas de atuação mais abrangentes, sendo poucas as coisas que você não poderá fazer após formado, enquanto veterinária por mais que tenha uma ampla área de atuação, se você não gosta de ver sangue, animais sofrendo e tem estômago fraco, provavelmente o curso não será para você”. Em contrapartida, Thiago, hoje especializado em Nutrição de cães e gatos, conta que, após decidir ser veterinário, foi assistir uma cirurgia simples, passou mal na sala, e todos à sua volta desacreditaram que ele seria veterinário. Essa situação nos mostra o grande processo de amadurecimento e mudança das pessoas durante a graduação e como não se deve desistir de um sonho por estereótipos como o de “Se não aguenta ver sangue não serve para ser veterinário”.
Infelizmente, como comentado, ainda existe significativo atrito entre os profissionais das duas áreas. Parte deste conflito é potencializado pela falta de atualização do manual de responsabilidade técnica e legislação dos Zootecnistas, desde sua criação, em 1968 pelo CFMV, cujo propósito é promover o bem-estar da sociedade, disciplinando o exercício das profissões de Médico Veterinário e Zootecnista por meio da normatização, fiscalização, orientação, valorização profissional e organização das classes. Essa potencialização do atrito acontece porque de 1968 até hoje muitas tecnologias e técnicas de ciência animal foram criadas e modificadas, e a atuação do zootecnista não foi atualizada diante deste cenário. Então como podemos exigir o que um zootecnista pode ou não fazer se na época que a legislação foi criada não existiam grande parte das técnicas atuais? Esse é um dilema que apenas o conselho deveria solucionar.
“Você entra na faculdade e descobre que não é a mesma coisa, tira notas decepcionantes e se assusta [...]. Nesse sentido vocês precisam ter calma, paciência e persistência, a habilidade técnica do curso está aí pra te ensinar [...]. Se ‘der ruim’, levanta e continua, as coisas não acontecem com naturalidade e não vai ser tranquilo, é necessário ter garra”, diz Camila. Para ser feliz na vida profissional é preciso descobrir o que se gosta de fazer. Por isso, por mais que o querer trabalhar com animais seja o pontapé inicial para a escolha de Medicina Veterinária ou Zootecnia, é preciso ter em mente que em ambas é preciso lidar e trabalhar com pessoas, apenas gostar de animais não é o suficiente e não te dará as habilidades necessárias para enfrentar todos os desafios. E a faculdade é um excelente local para treinar a maioria das habilidades necessárias.
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