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Thayla Valim Alves

O custo de bovinos confinados em comparação aos preços do boi magro e do boi gordo entre 2019 e 2022

Thayla Valim Alves

Vitória Toffolo Luiz

Gustavo Lineu Sartorello

Augusto Hauber Gameiro


Analisar o mercado é para qualquer atividade produtiva e não é diferente para os gestores de confinamento de bovinos. As projeções econômicas auxiliam no momento de compra de insumos e na venda de animais. Com isso, o produtor pode tomar decisões para tornar o seu empreendimento mais competitivo no mercado e mais rentável.


No Brasil há diferentes sistemas de produção de bovinos, seja na densidade de rebanho, forma de uso da terra, nível de suplementação nutricional e outros. A bovinocultura tem por característica se adaptar de acordo com as necessidades e a realidade de cada região do país. As regiões Centro-Oeste e Sudeste, por exemplo, possuem quantidade expressiva de bovinos em sistemas de produção em confinamento.


O confinamento é adotado, na maioria das vezes, de forma estratégica. Os bovinos são alojados na fase de engorda quando possuem mais de 360 quilos, geralmente. O momento mais adequado para confinar os animais é durante o período de escassez de chuvas, o que coincide com a redução da qualidade das pastagens. Esse sistema aumenta a eficiência produtiva da fazenda pela redução da idade para o abate, melhora o rendimento de carcaça dos animais e oferece a possibilidade de atingir nichos de mercado, já que o confinamento permite terminar os animais de diferentes raças e biotipos.


Nesse sentido o Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolve o projeto de extensão “Índice de Custo de Produção de Bovinos Confinados” (ICBC). Esse projeto conta com o apoio do Programa Unificado de Bolsas (PUB) da USP. O índice é gerado mensalmente e tem por objetivo informar qual é o custo total de produção de bovinos confinados, através do método definido por Sartorello et al. (2018). Os preços de todos os insumos utilizados na produção de bovinos confinados são levantados pela equipe mensalmente. Esses dados são utilizados para atualizar o modelo de cálculo de custo que, por sua vez, resulta nos custos de produção e, finalmente, no indicador.


O objetivo desta análise foi comparar o custo total de produção de bovinos confinados com os preços praticados do boi magro e boi gordo durante o período de 2019 até a atualidade. A série de preços do boi magro e boi gordo foi obtida junto ao CEPEA (2023) e à Scot Consultoria (2023), para boi gordo e magro, respectivamente. O Custo Total de produção refere-se a uma propriedade representativa no estado de São Paulo, com capacidade de abate de 27.000 animais por ano. As características desse sistema produtivo foram previamente definidas por Sartorello et al. (2018).


Ao analisar os comportamentos de preços (boi magro e boi gordo) e o custo total de produção por arroba nos últimos 4 anos verifica-se que os confinadores passaram por desafios em vários momentos (Figura 1).



Figura 1. Comportamento dos preços nominais do boi magro e boi gordo por arroba, e do custo total da produção por arroba, de 2019 a 2022. Os dados referem-se à propriedade representativa no estado de São Paulo, que possui capacidade produtiva ao ano de 27.000 animais (Fontes: Scot Consultoria, CEPEA e LAE/FMVZ/USP, respectivamente).


De acordo com a análise, o custo total de produção aumentou em termos nominais,ou seja, sem considerar o efeito da inflação, 96% entre janeiro de 2019 e novembro de 2022. O aumento dos custos se explica pelos preços mais altos de insumos alimentares, mão de obra e combustível para a operação. Existem períodos em que o custo de produção supera o preço do boi gordo, o que indica que o valor recebido por arroba é inferior aos dispêndios de custos com a engorda. Ao analisar o comportamento dessas duas variáveis observa-se instabilidade, com momentos de melhora em relação ao mercado do boi gordo e momentos em que o custo de produção está acima do preço do boi gordo. A permanência deste cenário (custos maiores do que os preços recebidos pelo boi gordo) indica risco para os confinadores no curto prazo, que assumem prejuízo econômico.


Outro desafio para o produtor foi o comportamento do preço do boi magro quando comparado ao preço do boi gordo, conhecido como ágio, uma vez que o boi magro é adquirido por um valor de arroba superior ao que será vendido. É válido ressaltar que o preço do boi gordo é instável e pode variar durante o tempo de confinamento, visto que possui em média duração de 90 a 120 dias. Nos dados compilados na Figura 01, os preços do boi gordo por arroba foram superiores ao do boi magro apenas entre outubro e novembro de 2019 e, em março de 2022 os dois preços estavam muito próximos.


O planejamento e estudo da aquisição de animais é importante, visto que esse é o item de custo de maior representatividade para o confinamento. O custo de aquisição do boi magro representou 42% do custo de produção total em dezembro de 2022, fator que está ligado à crescente preocupação com o potencial produtivo dos animais e o enfoque no melhoramento genético, tendo em vista que bons resultados não advém apenas de uma dieta de qualidade, mas da resposta de cada animal.


Por fim, entender dinâmicas como essas, permite que os produtores tenham uma visão ampla do mercado bovino e do seu empreendimento. Por essa razão, o ICBC disponibiliza gratuitamente o modelo de cálculo de custo pelo site (clique aqui para acessar o modelo de cálculo de custo). Além disso, uma das formas de entender esses fatores, é recebendo mensalmente o Informativo de Custos de Bovinos Confinados (ICBC) em seu e-mail. Para ser um assinante do ICBC de forma gratuita, envie uma mensagem de solicitação pelo contato: lae-indicadores@usp.br ou se inscreva pelo site do LAE.


Referências Bibliográficas


CEPEA. Boi gordo. 2023. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/indicador/boi-gordo.aspx.


SARTORELLO, G. L.; BASTOS, J. P. S. T.; GAMEIRO, A. H. Development of a calculation model and production cost index for feedlot beef cattle. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 47, 2018. https://doi.org/10.1590/rbz4720170215.


Scot Consultoria. Cotações- Reposição. 2023. Disponível em: https://www.scotconsultoria.com.br/cotacoes/reposicao/?ref=smn.

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